Passeando por uma das cidades americanas, numa noite escura e vazia, Andreia (nome fictício para preservar a identidade) não se importa com as notícias que dão conta que naquela localidade muitos criminosos atuam. Então, de repente, ela é abordada por um delinquente. Mas, ao invés de sentir medo, ela o trata docemente e até conversa como se fossem velhos conhecidos! Andreia faz parte de um estudo realizado nos EUA que pesquisa a fisiologia do medo.

Devido a uma rara doença, parte de seu cérebro foi afetada, particularmente as amígdalas. As amígdalas cerebrais há muito são associadas com as reações do corpo relacionadas ao medo. Nós já falamos  sobre isso num artigo anterior. Mas, foi só com a observação de pacientes como Andreia que os pesquisadores puderam confirmar essa relação.

Andreia leva uma vida praticamente normal, exceto pela ausência de medo. Então, ela foi submetida a diversos testes para saber até onde vai essa ausência. Numa das experiências, os cientistas na intenção de provocarem medo, a levaram para uma loja de animais exóticos, cheia de aranhas, cobras, lagartos e muitos dos bichos que só de pensar as pessoas em geral sentem pavor. Eles a observaram interagir com os animais, sem manifestar qualquer medo. Andreia até se interessou por uma cobra e quis segurá-la. Os donos da loja a permitiram e ela, deixando a cobra passear pelo seu pescoço, fez isso por um bom tempo.

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Essa total falta de medo, porém, tem feito Andreia ser vítima de vários delinquentes, picadas de insetos e mordidas de outros animais, motivo pelo qual seus familiares a levaram para um tratamento. Ela corre sério risco de abreviar a sua vida.

O caso de Andreia, publicado na revista Current Biology em 2010, atesta que o medo é uma ferramenta muito importante para nossa sobrevivência. Sem ele, ficamos expostos a todo tipo de perigo e a expectativa de vida é muito reduzida. As amigdalas, portanto, são essenciais para nossa preservação.

O neurologista Joseph LeDoux, da Universidade de Nova York, Estados Unidos, o maior especialista mundial em medo e também autor do livro O Cérebro Emocional, disse que “aparentemente, elas [as amígdalas] gravam a memória de alguns aspectos do perigo – um cheiro, uma imagem, um barulho. Depois, na próxima vez que topamos com esses mesmos estímulos, elas disparam, avisando que algo está errado”.

O processo é mais ou menos assim: Imagine que você é uma criança e escuta um zumbido (Buzzz). Ao ouvi-lo seu córtex cerebral, uma outra parte do cérebro que cuida do raciocínio, tenta analisar o que é. Ele procura associar a algo que você já tenha aprendido. Como você é uma criança, ainda não conhece muita coisa. Ao mesmo tempo suas amígdalas entram em ação, analisando se há algum perigo. Só que as amígdalas não raciocinam. Elas vão guardando a informação. De repente, você sente uma picada dolorosa em associação com o zumbido. Pronto! Essa informação fica gravada em sua memória do medo! Você pode até esquecer desse episódio de sua infância, mas suas amígdalas não!

O problema é que elas podem guardar informações distorcidas, já que não envolvem raciocínio. As amígdalas podem gravar medos que nem sabemos porque estão lá. É aqui que aparecem, num outro extremo diferente do caso de Andreia, muitas pessoas em todo mundo que sofrem de medo demais. Segundo a Organização Mundial da Saúde, pelo menos 15% dos seres humanos têm o problema de medo demais. Neles estão incluídas as pessoas incapazes de entrar em avião, as que tem medo de inseto (como uma barata), até os pacientes que enfrentam a terrível síndrome do pânico.

A síndrome do Pânico é um estado onde a pessoa sente um pavor intenso que torna a vida muito ruim. Mas, ela não sabe a origem disso. O que sabe é da sensação que sente. O coração começa a acelerar e um medo de morrer toma conta de sua mente, além de muitos outros sintomas associados ao medo.

O problema de tudo isso é que as amígdalas não distinguem se a sensação que o indivíduo está sentindo é verdadeira de perigo ou não. O processo se torna cada vez mais intenso, pois a pessoa passa a ouvir cada vez mais seu coração e um pavor invade a sua mente. E as amígdalas fazem seu papel de preparar o corpo com adrenalina no sangue, que acelera os batimentos cardíacos. E tudo é gravado pela amígdala. Se ela teve um ataque de pânico numa praça, as amígdalas registram como um lugar perigoso. Se teve num supermercado, a mesma coisa acontece, até que, em casos extremos, o indivíduo fica recluso em sua casa, pois ali se sente mais seguro. Em alguns casos a pessoa nem sai da cama!

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As pessoas que tem esse problema devem procurar um especialista para cuidar dessa enfermidade.

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Referências

The Human Amygdala and the Induction and Experience of Fear(Justin S. Feinstein (1University of Iowa, Iowa City, IA 52242, USA), Ralph Adolphs (California Institute of Technology, Pasadena, CA 91125, USA), Antonio Damasio (University of Southern California) e Daniel Tranel (Los Angeles, CA 90089, USA)), Publicado on-line e 16 de dezembro de 2010, Current Biology , http://www.cell.com/current-biology/abstract/S0960-9822(10)01508-3
O Erro de Descartes (António Damásio), Companhia das Letras, São Paulo, 1996.
O Cérebro Emocional (Joseph LeDoux), Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1998.
Sem Medo de Ter Medo(Tito Paes de Barros Neto), Casa do Psicólogo, São Paulo, 2000.
Revista SuperInteressante, Edição 157, Outubro de 2000, Editora Abril.

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